CENSURA: EMPRESA DE SJDR SE RECUSA A VEICULAR CAMPANHA CONTRA REFORMA ADMINISTRATIVA DE BOLSONARO

A empresa Mural Outdoor, de São João del-Rei, se recusou a veicular uma campanha contra a reforma administrativa do governo Bolsonaro, proposta pela Seção Sindical dos Docentes da UFSJ (ADUFSJ – Seção Sindical), Sindicato dos Servidores da UFSJ (Sinds-UFSJ) e Subsede do Sindicato Único dos Trabalhadores da Educação em São João del-Rei e Região (SindUTE SJDR).

A peça publicitária trazia a figura do presidente Jair Bolsonaro na arte e o motivo alegado para a recusa foi que a empresa não veicula campanhas que usem fotografias de pessoas públicas, para evitar possíveis retaliações. Os sindicatos, porém, suspeitam que a verdadeira razão seja o alinhamento político com o modelo de estado mínimo defendido pelo presidente Jair Bolsonaro e seu ministro da economia, Paulo Guedes.

Em julho de 2019, o Sinds-UFSJ já havia enfrentado o mesmo problema quando tentou contratar, com a mesma empresa, espaço para veiculação de um outdoor que questionava os parlamentares da região sobre qual seria o voto de cada um deles em relação à reforma da previdência, outra pauta neoliberal que mobilizou o governo Bolsonaro. A peça publicitária não apresentava conteúdo agressivo. Mesmo assim foi vetada.

Dois pesos, duas medidas

Quem circulou por São João del-Rei na semana do dia 11 de julho pode conferir, em uma placa de outdoor instalada na Ponte da Biquinha, a figura do hoje deputado Aécio Neves (PSDB-MG) estampada em uma campanha patrocinada pelo Hospital Santa Casa de Misericórdia. O objetivo era homenageá-lo por cumprir sua obrigação: destinar verbas públicas para a saúde.

No dia 11 de dezembro do ano passado, quem passou pela Avenida 8 de Dezembro também pode testemunhar a presença de duas outras figuras públicas estampadas em outro outdoor. Curiosamente, uma delas era o próprio presidente Jair Bolsonaro, ao lado do seu ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro. A diferença é que a campanha em questão era favorável ao presidente.

Consenso forjado

Os sindicatos que promovem a campanha esclarecem que decidiram denunciar a censura por considerarem inadmissível que, em uma sociedade dita democrática, a liberdade de expressão seja direito de apenas um grupo do espectro político.

Para a presidenta da ADUFSJ, Maria Jaqueline Grammont, o objetivo desta censura, praticada veladamente, é fazer as pessoas acreditarem que não há posições contrárias à reforma administrativa e, assim, deixar passar a ideia de que ela será positiva para o Brasil. “Isso é mais uma mentira, essa reforma não só afeta a vida dos servidores públicos, mas também a de todo o trabalhador que depende do SUS, do posto de saúde, do hospital público e que sonha com uma universidade pública para seus filhos e netos”, sustenta.

Segundo a presidenta, na mídia brasileira não há espaço para o contraditório, não há espaço para uma visão contrária à reforma da administrativa, porque tanto a mídia como os poderes estão a serviço dos interesses dos grande empresários sanguessugas que pretendem aumentar seus lucros com o repasse do dinheiro público arrecadado do salário do trabalhador, que é quem realmente paga impostos, incluindo o servidor público, direto para os cofres privados.

“Por isso, é um absurdo que empresários da mídia local queiram silenciar os trabalhadores que estão legitimamente lutando para que todos saibam a quem serve de fato as reformas que estão sendo conduzidas ardilosamente no Congresso Nacional”, denuncia ela.

Censura nunca mais

A coordenadora de Comunicação Sindical do Sinds, Isabel Pacheco, denuncia que essa empresa que se nega a prestar o serviço contratado pelos Sindicatos sabe que os sindicatos têm como objetivo trazer a população para o debate democrático e promover o entendimento desses cidadãos sobre as reformas neoliberais propostas pelo governo e sobre os impactos terríveis na vida de cada brasileiro.

“Assim como sabemos que é do bolso dessa mesma população, que trabalha de sol a sol, que saem os milhões de reais que o governo Bolsonaro investe em marketing para maquiar o que está por trás de cada reforma: o desmonte do Estado, o fim do serviço público gratuito brasileiro, o fim da educação e saúde pública, da previdência social, o fim de serviços que ainda restam para assegurar o mínimo de dignidade ao povo brasileiro. Precisamos nos unir para lutar pela melhoria e ampliação desses serviços, nunca pelo seu fim”, acrescenta ela.

A coordenadora da Subsede do Sind-UTE de São João del-Rei e Região, Maria Goretti Ramos, ressalta que censura com combina com democracia. "Conquistamos com sangue e suor a democracia no Brasil. O que um grupo pequeno de empresários com poder de São João del-Rei tem feito remete aos piores tempos de nossa história recente”, afirma.

“O aumento da repressão e do autoritarismo do governo federal e de seus aliados deve ser combatido com luta e mobilização. Não vamos nos silenciar, pelo contrário, as nossas vozes vão ganhar eco diante de mais este ataque à liberdade de expressão", acrescenta ela.  

Fenômeno nacional

A censura aos conteúdos de crítica ao presidente Jair Bolsonaro e seu espectro político tem se mostrado um fenômeno antidemocrático e preocupante registrado em outras regiões do país, como atesta matéria publicada pelo ANDES - Sindicato Nacional, sobre a mesma recusa de empresas que operam em nove capitais do país de veicularem campanhas contra políticas de Bolsonaro.

O portal Congresso em Foco também noticiou o ataque de um grupo bolsonaristas, armado de uma motosserra,  a um outdoor contrário ao governo instalado em São Gabriel D´Oeste, em Mato Grosso do Sul. A peça publicitária acabou sendo coberta com uma lona preta.

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